Descobrindo Deus - 2
Estávamos diante de um terrível problema e com várias nuances:
a situação financeira era muito difícil, o emprego dificílimo,
tínhamos 4 filhos, ali, expostos, e se por acaso ainda tivéssemos alguma radiação ativa?
o assunto era nitroglicerina pura,
o peixe, já não tínhamos mais,
Furnas encobriu tudo,
Os funcionários regiamente pagos não iriam declarar nada com medo de perder seus empregos.
O grande problema é que quem pagava meu salário e parte do salário de Beth era Furnas.
Beth e eu nos perguntamos o que iríamos fazer?
Sondamos algumas professoras, colegas da escola, e que eram esposas de funcionários mediamente graduados na Usina.
Elas nos disseram que não havia problema, que a Usina era segura e se por acaso não fosse elas não estariam ali com seus filhos e maridos.
Uma delas nos disse que uma vez o marido chegou em casa com as roupas contaminadas, que ele não deixou ninguém se encostar, tomou um banho caprichado e botou as roupas para lavar e tudo bem.
E as crianças com câncer?
E as com falta de cromossomo?
E o peixe?
Furnas possui 2 conjuntos residenciais em Angra: Praia Brava e Mambucaba, neles moram engenheiros e técnicos.
Em torno deste dois núcleos, vamos dizer, da elite, gravitam outras localidades que fornecem mão de obra temporária ou terceirizada: Frade, Mambucaba velha, Parati e outras localidades menores.
Beth dava aula em dois turnos no Frade, na Escola Estadual, professora do Estado que era.
Lá também ela notou uma incidência grande de casos de crianças e adultos com câncer.
O Frade é uma vila de antigos pescadores da região, de origem humilde.
Um dos alunos de Beth disse a ela que tinha trabalhado num compartimento contaminado da Usina fazendo a limpeza e que foi contratado temporariamente.
Ela perguntou se tinham dado a ele alguma roupa especial e ele disse que não.
Depois de conversar muito com muitas pessoas eu e Beth chegamos à conclusão que:
o problema precisaria ser quantificado,
o problema precisaria ser monitorado.
Quantificado: seria preciso uma equipe de pessoas para fazer uma pesquisa sobre casos de câncer na região e em ex-funcionários de Furnas.
Monitorado: Seria necessário controlar diariamente com contadores Gêiser, a água que sai do resfriamento do reator e que vai para a Baía de Angra;
na saída da Usina, todos, teriam que passar por um local com contadores gêiser para monitorar uma possível contaminação das pessoas que saem, esta medida é simples, você não passa por uma porta rotativa nos bancos? .
Só que isto tudo geraria um temor na população.
E isto teria que ser feito com a participação da sociedade e talvez até de alguma ONG estrangeira.
Teria que ser feito de maneira natural, poderia ser feito com uma propaganda educativa sem revelar a origem da medida, teria que ser feito como se fosse uma procura por transparência por parte da Usina.
Procuramos então um vereador da Câmara de Vereadores de Angra dos Reis e expusemos a situação.
Sabe o que ele nos aconselhou?
Fazer uma denúncia anônima!
Eu disse: vereador, nós não somos pessoas de fazer denúncia anônima, isto está custando muito para nós.
E ele falou: bem, vou consultar o fulano (não vou citar nomes aqui) que tem grande influência local (era um dos caciques local).
Amanhã tem mais, fica mais emocionante e eu não fico tão tenso quanto estou, para contar isto para vocês.
Abraços.
4 Comments:
Fred,
estou pasmo com essa situação, que não conhecia... Perplexo, mesmo.
Torço por você e sua família.
Aguardo um desfecho feliz.
Sinceramente.
JÔKA P.
Bom dia....
Minha primeira vez por aqui..
E retornarei....
Bjs....
Fred:estou acompanhando o seu relato,e como pisciana e mulher,sou bem curiosa.Vc e e Beth têm uma trajetória
bem bonita de vida,e que precisa ser realmente compartilhada.
Vou aguardar ansiosamente a continuação.
Beijos carinhosos pra vcs e boa quinta-feira.
Fred, estou chocada com o que vc está narrando, Deus meu.
abs, laura
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