De tudo um pouco
Trabalhar ou estudar?
Ambos os caminhos difíceis. Trabalhar em que? Não sei fazer nada.
Entrar para faculdade (só pública, que a situação da família é difícil), com 3000 concorrentes para 120 vagas? Nunca fui bom aluno. Médio a fraco.
O pior era a situação política que vinha tumultuada há anos. Ataques violentos de Carlos Lacerda a Getúlio instabilizando a política e os nervos dos brasileiros há anos. O atentado a Lacerda e o suicídio de Getúlio em 1954. O governo realizador de Juscelino (1956 a 1961) mostrava que o país tinha realmente futuro, foi uma época em que o cidadão se orgulhava de ser brasileiro. Em 1961 a eleição de Jânio e Jango e a renúncia de Jânio. João Goulart se manifestava a favor do comunismo e os Estados Unidos em sua fobia contra o comunismo internacional mexia seus pauzinhos para impedir sua posse junto com Lacerda e a direita brasileira. Tiveram um trabalho danado, mas não conseguiram. João Goulart tomou posse, mas foi um inferno, a direita não dava trégua.
Nesta época já namorava minha futura mulher, e o pai dela era comunista. Eu vinha de uma família anteriormente abastada, portanto, de cultura elitista e de direita.
Nas discussões com meu futuro sogro a preocupação com os desfavorecidos foi ganhando espaço. O comunismo era a saída para todos os problemas. Todos iguais, todos, com casa e comida. Em casa a contra partida era que ao se distribuir as riquezas, todos iam ficar na miséria e umas duas ou três famílias iam morar lá em casa, como aconteceu na Rússia.
Sentia-me desorientado, pois ambos tinham suas razões. O coração tomou a decisão, a solidariedade falou mais alta e me assumi comunista.
A decisão de fazer a faculdade veio da análise de como eu poderia sustentar uma família, num bom nível econômico. Escolhi engenharia por ser mais compatível com minha vocação. Sempre gostei de construir coisas e a gestão de Juscelino me dava esperanças.
Um ano estudando só para o vestibular, três maços de cigarro por dia, 15 kg mais magro e em 1965 me vejo no fundão, cidade universitária, UFRJ, entrada da Ilha do Governador.
Em 1964 tinha acontecido a deposição de João Goulart pelos militares.
Naturalmente, minha geração que teve a liberdade de acompanhar o processo político do país, reagiu como pode, pois era politizada, ou seja, não havia censura aos meios de comunicação.
Só a liberdade de imprensa permite a politização.
No bloco A da Engenharia fazíamos assembléias e íamos para as ruas, preferencialmente a Avenida Rio Branco, pois era a mais movimentada, com grande número de automóveis e quando paralisada, dificultava, pelo congestionamento, a chegada da repressão.
Saíamos na contramão. Levávamos bolas de gude, pois a cavalaria do exército sempre aparecia. Era uma visão dantesca. Uma correria danada. Tiros, nós e o povo correndo para tudo que é lado, tentando entrar nas lojas que fechavam suas portas. Os cavalos pisavam nas bolas de gude e voava cavalo e cavaleiros, por entre e por cima dos carros parados no congestionamento.
Um dia cheguei á tarde na Faculdade e encontrei todos os andares do bloco A inteiramente destruídos. Laboratórios, cadeiras, mesas, equipamentos de análise, instrumentos de medida, microscópios, tudo destruído.
Um batalhão do exército tinha ido de manhã e arrasara tudo, perseguiu os alunos no matagal em frente à faculdade, prenderam e bateram em colegas, um desespero.
Como um ser racional pode imaginar um patrimônio público, construído com sacrifício, totalmente destruído pelo próprio governo?
Indiscriminadamente colegas eram presos e sumiam, foi uma época extremamente estressante.
O movimento foi esvaziando. Eu me perguntava porque as pessoas por quem nós estávamos lutando não se manifestava.
Porque nós arriscávamos tudo pelos mais desfavorecidos, e eles nem nos ajudavam a nos esconder?
E muitas vezes nos entregavam.
E aí vi que eles não tinham noção de nada. De seu direito a uma posição melhor na sociedade. E sem eles vi que não havia futuro no movimento.
Os que continuaram a luta foram para a clandestinidade, foram presos, alguns mortos, outros fugiram, voltaram e hoje estão no poder, não pela luta armada, mas pelo entendimento do povo.
Lutaram, quase morreram, comeram o pão que o diabo amassou e conseguiram. Estão fazendo um bom governo, economia com o pé no chão, sem planos malditos.
O Brasil vai crescendo, devagar, mas com firmeza, como tem que ser, o desemprego diminuindo, o Brasil exportando, mostrando sua força, investimentos, esperanças novas.
O pequeno sendo mais amparado, projeto para quem tem fome, projeto para quem tem sede (transposição), meus velhos sonhos vão se reacendendo.
De repente, o mensalão.
É preciso investigar e esclarecer tudo, mas eu fico impressionado como as pessoas ficam preocupadas com as banalidades e o principal é esquecido. As pessoas estão mais interessadas em saber se o manto foi o do enterro de Jesus do que com seus ensinamentos. Para mim é assombroso ver pessoas dando mais valor a detalhes do que o motivo. Os detalhes estão documentados, com o tempo e com as investigações em andamento vamos saber quem pagou e quem recebeu e a carniça aparecerá com o tempo. São detalhes.
E o motivo?
Mensalão ou despesa de campanha? Ou as duas coisas?
A única coisa que posso imaginar é que para governar é preciso maioria no Congresso. E o governo não tem.
Pense bem: lutas armadas ou não, prisões, falta de dinheiro para campanhas. As pessoas que estão no Governo, Genoino, Dirceu, Lula e todos os demais que passaram por isto finalmente chegaram ao poder, é a possibilidade de fazer deste país um grande país, o que sempre quiseram e viveram para isto.
E não vão poder fazê-lo, porquê a oposição sendo maioria vai barrar todas as iniciativas pela simples vontade de ganhar as próximas eleições argumentando que o governo não fez nada. Eles dizem que não, que fazem uma oposição construtiva. Realmente começaram bem, apoiando as reformas propostas, mas a medida que o governo foi crescendo mudaram de rumo. Mas nós sentimos que agora não é assim. O PT também agiu assim, não podem negar. Só que o governo anterior fez apenas o que soube fazer, porque tinha maioria, com ou sem mensalão, com ou sem PT.
E acho que fez muito pouco.
Para mim, o que é importante é saber quem optou e porquê optou por esse caminho espúrio, sem sustentação.
O Brasil é um país corrupto. Até o Bush sabe disso e já disse isso para nós. E acho que temos que mudar. O brasileiro que não é corrupto só não o é por falta de oportunidade. A ditadura aumentou por demais esta ânsia do brasileiro ganhar dinheiro, seja pelo meio que for. A impunidade da corrupção, proporcionada pelos militares, gerou este sentimento que é verdadeiro: o corrupto não é punido.
Se o Lula sabia e acho que sabia, deve deixar o governo e o Vice assumir (se não tiver culpa também), e vamos caminhar, esperando que o próximo presidente consiga fazer pelo menos o que o Lula está fazendo.
Se o Vice tiver culpa que assuma o próximo substituto legal. Vamos ao menos uma vez seguir as regras e se não se apresentarem boas mudemo-las, depois.
Pessoalmente acho qualquer crise normal, porque somos humanos. Erramos mais que acertamos
Só quem ganha com a crise é quem está dando um tom caótico para se aproveitar.
Lembro-me do Japão, país de sérios. Durante uns três ou quatro anos seguidos, todo ano caía um Primeiro Ministro, acusado de corrupção na segunda economia do mundo.
Lembro-me de Nixon, lembro-me de Clinton, tudo deve seguir num ritmo normal, mesmo com crise, porque isto indica uma verdadeira República, não uma Republiqueta.
Outra saída diferente desta é puro interesse espúrio para se locupletarem.
Espero que o povo entenda o que esta acontecendo e reaja, pois sem a massa nada será possível.
O tom histérico dado por parlamentares da oposição é no mínimo de despreparados para o exercício dos seus mandatos. Pessoas despreparadas porque o interesse da população é que tudo seja apurado, com calma, com objetividade, sem que a economia se ressinta.
Eu tenho um pressentimento de que muito destes parlamentares que estão esbravejando, exigindo a cassação imediata do presidente ainda vão se arrepender de tê-lo feito pois a população não é tão tonta e tola como acham. O brasileiro sabe qual político está fazendo jogo de cena.