quinta-feira, agosto 04, 2005

Descobrindo Deus - 3

Bom dia amigos, vamos continuar descrevendo nosso caminho para vocês.

Agradeço muito as palavras dos amigos blogueiros.

Em outro dia, quando voltamos a falar com o vereador ele nos comunicou:
Fulano acha melhor chamar a imprensa e fazer a denúncia.
Fiquei estarrecido!
O assunto era sério, seríssimo e o máximo que se podia obter de uma pessoa que tinha uma representação do povo para resolver os problemas do povo era – vamos para a imprensa.
E então eu senti um desânimo enorme.
Para ir para a imprensa não precisamos de vereadores ou de quem quer que seja.
E aí me veio imediatamente o pensamento: quer aparecer!
Ir para a imprensa seria obrigar Furnas a desmentir.
Já imaginaram: “Radiação contamina Angra”.
E a população?
População que sempre pressentiu que algo tem de errado ali.
(Veja o comentário de uma de nossas amigas de Blog que tem parentes em Parati.)
A direção da Usina não teria o que fazer, a não ser negar.
Já pensaram o que isto significa?
Processos de perdas e danos, processos contra a degradação do meio ambiente, processos de responsabilidade etc.
O que eu e Beth achamos que devia ser feito, o que nós esperávamos?
Formar um grupo de pessoas e sem alarde fazer um levantamento preliminar rápido dos casos de câncer que tínhamos presenciado, fazer uma pesquisa de radiação na área entorno da baía de Angra e avaliar se estaria dentro das normas Internacionais, conhecendo-se assim realidade.
Óbvio, haveria um gasto com compra de contadores Geiser, teríamos que contatar voluntários que fizessem a pesquisa de forma sigilosa, haveriam gastos com transporte etc.
Mas só obtínhamos : “vamos para os jornais”.
Barbaridade!
De imediato para nós isto significava: Estão demitidos!
Eu e Beth conversamos e chegamos à conclusão que ficar em Angra naquela situação era arriscado e não estávamos afim de arriscar a saúde de nossos filhos.
Fizemos um relatório de tudo que pensávamos, para ser lido e entregue na Câmara de Vereadores de Angra e o entregamos ao Vereador.
Que seja!
Não sei se vocês têem a condição de imaginar nossa situação:
- 3 filhos em fase de fazer cursinho para vestibular e um com 5 anos.
- Duros, há 5 anos tentando vender nossa casa em Angra e só obtínhamos preços baixíssimos.
-Sem o salário de Furnas só daria para comer.
Estávamos arrasados.

Vou lembrar a vocês hoje, que o meu título é: Descobrindo Deus.

Amanhã – O turbilhão

Abraços

COMUNICACÃO É: !!!!!

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Descobrindo Deus - 2

Bem gente, vamos continuar nosso relato de mais uma das coisas incríveis que ocorrem no nosso Brasil, não sem antes agradecer os comentários que recebemos dos amáveis amigas e amigos blogueiros.
Estávamos diante de um terrível problema e com várias nuances:
a situação financeira era muito difícil, o emprego dificílimo,
tínhamos 4 filhos, ali, expostos, e se por acaso ainda tivéssemos alguma radiação ativa?
o assunto era nitroglicerina pura,
o peixe, já não tínhamos mais,
Furnas encobriu tudo,
Os funcionários regiamente pagos não iriam declarar nada com medo de perder seus empregos.
O grande problema é que quem pagava meu salário e parte do salário de Beth era Furnas.
Beth e eu nos perguntamos o que iríamos fazer?
Sondamos algumas professoras, colegas da escola, e que eram esposas de funcionários mediamente graduados na Usina.
Elas nos disseram que não havia problema, que a Usina era segura e se por acaso não fosse elas não estariam ali com seus filhos e maridos.
Uma delas nos disse que uma vez o marido chegou em casa com as roupas contaminadas, que ele não deixou ninguém se encostar, tomou um banho caprichado e botou as roupas para lavar e tudo bem.
E as crianças com câncer?
E as com falta de cromossomo?
E o peixe?
Furnas possui 2 conjuntos residenciais em Angra: Praia Brava e Mambucaba, neles moram engenheiros e técnicos.
Em torno deste dois núcleos, vamos dizer, da elite, gravitam outras localidades que fornecem mão de obra temporária ou terceirizada: Frade, Mambucaba velha, Parati e outras localidades menores.
Beth dava aula em dois turnos no Frade, na Escola Estadual, professora do Estado que era.
Lá também ela notou uma incidência grande de casos de crianças e adultos com câncer.
O Frade é uma vila de antigos pescadores da região, de origem humilde.
Um dos alunos de Beth disse a ela que tinha trabalhado num compartimento contaminado da Usina fazendo a limpeza e que foi contratado temporariamente.
Ela perguntou se tinham dado a ele alguma roupa especial e ele disse que não.
Depois de conversar muito com muitas pessoas eu e Beth chegamos à conclusão que:
o problema precisaria ser quantificado,
o problema precisaria ser monitorado.
Quantificado: seria preciso uma equipe de pessoas para fazer uma pesquisa sobre casos de câncer na região e em ex-funcionários de Furnas.
Monitorado: Seria necessário controlar diariamente com contadores Gêiser, a água que sai do resfriamento do reator e que vai para a Baía de Angra;
na saída da Usina, todos, teriam que passar por um local com contadores gêiser para monitorar uma possível contaminação das pessoas que saem, esta medida é simples, você não passa por uma porta rotativa nos bancos? .
Só que isto tudo geraria um temor na população.
E isto teria que ser feito com a participação da sociedade e talvez até de alguma ONG estrangeira.
Teria que ser feito de maneira natural, poderia ser feito com uma propaganda educativa sem revelar a origem da medida, teria que ser feito como se fosse uma procura por transparência por parte da Usina.
Procuramos então um vereador da Câmara de Vereadores de Angra dos Reis e expusemos a situação.
Sabe o que ele nos aconselhou?
Fazer uma denúncia anônima!
Eu disse: vereador, nós não somos pessoas de fazer denúncia anônima, isto está custando muito para nós.
E ele falou: bem, vou consultar o fulano (não vou citar nomes aqui) que tem grande influência local (era um dos caciques local).
Amanhã tem mais, fica mais emocionante e eu não fico tão tenso quanto estou, para contar isto para vocês.
Abraços.



COMUNICACÃO É: !!!!!

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