Descobrindo Deus - 4
Abraços a todos.
É preciso fazer um retrato da Escola onde trabalhávamos em Praia Brava para sentir bem a nossa situação.
A Escola era estadual mas com a falta de professores, em função da Escola ser distante de Angra acho que 40km e Parati 50km, Furnas contratava professores sem ser concursados no Estado, para completar o quadro.
A Escola é bem grande.
Eu dava aula para as três turmas do 2º grau e para a turma da formação de professores.
Beth dava aula de Biologia para as mesmas turmas.
Foram 5 anos assim.
A maioria dos professores eram mulheres de funcionários, contratadas por Furnas.
Foram tempos de trabalho muito bons (não pela remuneração), pessoas maravilhosas de quem temos muita saudade.
A maioria das informações que tínhamos vieram delas ao longo dos 5 anos e que foram sedimentando vagarosamente em nosso subconsciente.
Conhecíamos seus filhos, muitos, nossos alunos, seus maridos, seu dia a dia.
O nosso relatório estorou como uma bomba na cidade. Acho que a reunião da Câmara se deu à tarde.
Nós não sabíamos de nada porque a nossa casa ficava a 20km de Angra.
Chegamos na Escola de manhã e entramos na sala dos professores.
O clima era de cemitério. Nunca vou me esquecer.
Achamos estranho e fomos dar nossas aulas. Na hora do intervalo a ex-diretora chamou Beth e perguntou o que estava havendo.
Beth que não sabia de nada disse:
-Nada.
E ela falou:
-Eu soube que você fez uma denúncia contra a Usina.
- Foi, pelo que vocês nos contaram, pelo que eu vejo todo o dia aqui e no Frade, senti-me na obrigação de fazer o que fiz, não quero compactuar com isto, se eu estiver errada e espero que esteja, serei a pessoa mais feliz deste mundo.
Nossos colegas mal falaram conosco.
No relatório citamos frases que eles nos tinham dito.
Imagine a preocupação deles.
Bom emprego, ganhando muito bem, estavam tremendo pela possibilidade de serem demitidos por Furnas.
Da nossa parte nós nunca diríamos, e nunca diremos quem nos disse alguma daquelas coisas, mas eles não sabiam disto.
Terror justificado.
Mas foi um clima. Senti-me na casa de alguém que não suportava a nossa presença.
Já sentiu isso?
Mas nós estávamos na mesma situação deles, o que ficou comprovado dias mais tarde quando chamaram Beth e perguntaram á queima roupa:
- Você sabe quem está pagando seu salário?
Beth respondeu;
- Sei sim, isto é uma ameaça?
- Não, você esta equivocada etc. etc. etc.
Nesta entrevista Beth levou uma colega que não tinha vínculo com Furnas, de testemunha.
Bem, voltando ao dia D.
Tocou o sinal de encerramento das aulas.
O dia tinha sido horrorível.
Quando penso, fico até meio tonto, me esqueci até de dizer que os alunos já sabiam de tudo e dar aula foi uma pedrada.
Pegamos nosso carro, nossa filha mais nova que estudava na pré-escola e fomos para casa arrasados.
Meu filho mais velho, Fred, fazia cursinho em Angra, minha filha Luciana e meu filho João Carlos (Joca) estavam no Rio, na casa da minha mãe fazendo cursinho.
A nossa casa.
Ela ficava num condomínio que de casa, só tinha a nossa. Para se chegar a ela saíamos da BR-101 e íamos por uma estradinha de 2km, até chegar lá.
Lugar lindo. O terreno ia até a beira d’água em plena mata Atlântica. Eu derrubara só duas arvorezinhas para fazer a casa. Não era muito grande. A área ocupada horizontalmente era de 12m x 5m, 60 m2, para não interferir com a natureza. Tinha 2 andares, qualquer dia ponho a foto dela aí. Do mar quase não se via, rodeada que era pelas árvores. Paraíso.
Sentia-me ali um verdadeiro Tarzan.
Bem, entramos na estradinha e no meio do caminho encontro um motoqueiro dos correios.
Ele pediu para parar e falou:
- O senhor é Frederico Schmidt?
- Sou sim.
-Tenho um telegrama para o senhor.
Abraços.